segunda-feira, 16 de abril de 2018

Pneumonia- Fatores de risco

Pneumonia é o nome que damos à infecção de um ou ambos os pulmões. Para sermos mais precisos, a pneumonia é a infecção dos tecidos pulmonares e seus alvéolos.



A pneumonia é uma infecção não contagiosa causada habitualmente por bactérias, mas que também pode ser provocada por vírus ou fungos.

Como se pega pneumonia?

A pneumonia pode ser causada, em ordem decrescente de frequência, por: bactérias, vírus, fungos e parasitos.


A maioria das pneumonias são de origem bacteriana. As bactérias que mais habitualmente provocam pneumonia são: 
  • Streptococcus pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae, Haemophilus influenzae, Moraxella catarrhalis e Staphylococcus aureus.
Na grande maioria dos casos, a pneumonia não é uma doença contagiosa como a gripe ou tuberculose (que pode até ser considerada um tipo de pneumonia). Você pode entrar em contato com um paciente com pneumonia, que, exceto em situações especiais, não haverá risco de contaminação.

Como então surge a pneumonia? 

Nossos pulmões são órgãos expostos constantemente a micróbios do ar e da nossa própria flora bacteriana da boca. Nós não ficamos doentes o tempo todo porque o pulmão tem seus próprios mecanismos de defesa, que o mantém livre de germes. Entre estes mecanismos podemos citar o reflexo de tosse, a presença de células do sistema imunológico ao longo de todo trato respiratório e a existência de microscópicos cílios na árvore brônquica que “varrem” os agentes invasores para fora das vias respiratórias.

*O desenvolvimento da pneumonia depende da virulência do invasor, da quantidade de micróbios que conseguem chegar aos pulmões e das condições imunológicas do paciente. Em geral, uma pneumonia surge quando um germe agressivo consegue penetrar o trato respiratório e encontra o sistema de defesa comprometido.

Situações triviais podem reduzir as defesas do sistema respiratório

  •  pacientes que fumam apresentam um irritação constante de toda árvore brônquica e disfunção dos cílios protetores. As células de defesa pulmonar também são afetadas pelo cigarro e não funcionam tão bem. Tudo isso favorece o aparecimento de infecções respiratórias. 
  • Outro exemplo são os pacientes com gripe. A lesão que o vírus da gripe provoca do sistema respiratório também favorece a invasão de bactérias, que se aproveitam da redução da capacidade do paciente de combater os germes que chegam às partes mais interiores do sistema respiratório. 
  • Pessoas idosas naturalmente têm seu sistema imunológico mais fraco, o que as coloca sob maior risco de desenvolver pneumonias. Do mesmo modo, pessoas já debilitadas por outras doenças, como insuficiência cardíaca, alcoolismo ou diabetes, também apresentam maiores riscos.

Fatores de risco para pneumonia

Os principais fatores de risco para pneumonia são:


– Idade maior que 65 anos.
– Infecções respiratórias virais, como gripe.
– Tabagismo.
– Doenças imunossupressoras ( HIV, transplante, câncer…).
– DPOC (bronquite crônica e enfisema pulmonar).
– Usuários de drogas.
– Doentes acamados.
– Pessoas com redução do nível de consciência.
– Hospitalizações prolongadas.
– Pacientes em ventilação mecânica (em uso de respirador artificial).
– Pacientes com outra doença pulmonar prévia (sequelas de tuberculose, bronquiectasias, fibrose cística, etc.)

Pneumonia por aspiração

Um tipo gravíssimo de pneumonia é a pneumonia por aspiração. Ocorre em pessoas que vomitam e logo após aspiram o seu conteúdo. É um tipo de pneumonia comum em pacientes com nível de consciência reduzido, que perdem a capacidade de tossir ou de engolir a própria saliva, fazendo com que as secreções da cavidade oral caiam nas vias respiratórias. 

A via aérea desta pessoa fica exposta a uma quantidade imensa de micróbios, muito maior do que o habitual, favorecendo o desenvolvimento de pneumonia. Um exemplo comum é alguém que bebeu muito e está em coma ou pré-coma alcoólico.
Sintomas da pneumonia

Os sinais e sintomas da pneumonia incluem tosse com expectoração, febre, calafrios, falta de ar, dor no peito quando se respira fundo, vômitos, perda de apetite, prostração e dores pelo corpo. Pode haver presença de sangue misturado ao escarro. A febre da pneumonia é geralmente alta.


É muito comum a pneumonia surgir como complicação de uma gripe. Muitas vezes o paciente acaba atribuindo seus sintomas de pneumonia à gripe, demorando a procurar ajuda médica. É preciso ter atenção a quadros de gripe que não melhoram, ou até pioram progressivamente, principalmente se o paciente for idoso.

Pacientes acima de 60 anos ou com outras doenças, como insuficiência renal, insuficiência cardíaca, cirrose, HIV ou uso de drogas imunossupressoras, podem apresentar um quadro mais discreto, com pouca tosse e nenhuma febre. Às vezes, a pneumonia neste grupo se apresenta apenas com prostração e alterações mentais, como desorientação e confusão mental.

Uma das complicações possíveis da pneumonia é a formação de derrame pleural, que colabora para o surgimento de cansaço e falta de ar.

Nas pneumonias extensas, quando grande parte do tecido pulmonar está acometido, o paciente pode entrar em insuficiência respiratória, sendo necessária a entubação orotraqueal, ventilação mecânica e internação em unidade de terapia intensiva (UTI).


Diferenças entre pneumonia e tuberculose

Muitos pacientes que apresentam um quadro de tosse e expectoração ficam assustados com a possibilidade de terem tuberculose. A diferença está no tempo de evolução da doença.

A pneumonia é um quadro agudo que evolui em horas. O paciente fica mal com pouco tempo de doença, procurando atendimento médico já nas primeiras 72 horas de doença.

A tuberculose se apresenta como um quadro mais arrastado, com os sintomas piorando gradativamente e o paciente muitas vezes só procura atendimento médico várias semanas depois do início dos sintomas.


Diagnóstico da pneumonia

O diagnóstico da pneumonia é feito normalmente com exame físico e uma radiografia de tórax. Análises de sangue podem ajudar, mas não são imprescindíveis. Um bom médico é capaz de diagnosticar uma pneumonia apenas com a história clínica e o exame físico.

A radiografia, por ser um exame barato e amplamente disponível, é normalmente solicitada para confirmação do diagnóstico. Os alvéolos cheios de secreção aparecem como uma mancha branca à radiografia de tórax, como se pode ver na foto ao lado

O hemograma do paciente com pneumonia apresenta uma grande elevação do número de leucócitos, típico de infecções bacterianas.

*Nos pacientes mais graves, que necessitam de hospitalização, normalmente tentamos identificar qual é a bactéria responsável pela pneumonia. Podemos pesquisar a bactéria no sangue (através da hemocultura) ou no próprio escarro do paciente. Em casos selecionados pode ser necessária a coleta de secreções diretamente do pulmão, através da broncoscopia.
Tratamento da pneumonia

As pneumonias são divididas em comunitárias, quando adquiridas no dia-a-dia, e hospitalares, quando surgem em pacientes hospitalizados.  

*A pneumonia hospitalar é mais grave e mais difícil de tratar, pois é normalmente causada por bactérias mais resistentes e acomete pacientes mais fragilizados.

O tratamento das pneumonias bacterianas é feito com antibióticos por no mínimo oito dias. As pneumonias comunitárias podem ser tratadas com antibióticos orais, porém, aquelas que evoluem mal necessitam de internação hospitalar e antibióticos venosos.

As principais drogas usadas para as pneumonias comunitárias são a amoxacilina com ácido clavulânico, azitromicina, claritromicina, ceftriaxona, levofloxacino e moxifloxacino. Esperam-se sinais de melhora a partir do segundo ou terceiro dia de tratamento.

Pneumonias podem facilmente levar à sepse e costumam ser importante causas de morte em idosos e pacientes imunossuprimidos.

Já existe vacina contra a pneumonia estreptocócica, causada pelo Streptococcus pneumoniae, o tipo mais comum. Ela está indicada em crianças e pessoas acima dos 50 anos, mas não evita pneumonias causadas por outros germes.

Pegar frio causa pneumonia?

A história do frio é muito difundida na população, mas apresenta apenas uma pequena parcela de verdade. Como eu já expliquei, para se ter pneumonia é necessário uma infecção bacteriana; não basta uma corrente de ar frio para nos infectar.

O que acontece é que no frio (no Brasil poucos lugares fazem realmente frio) o sistema de defesa, principalmente os cílios das vias aéreas, funcionam de modo mais lentificado, o que favorece a invasão de germes.

 No inverno as pessoas andam menos na rua e tendem a se aglomerar em locais fechados, favorecendo a transmissão de vírus, como o da gripe. Como já referido, infecções respiratórias virais são fatores de risco, principalmente em idosos, para o aparecimento de pneumonia.

Agora, ninguém pega pneumonia porque abriu a geladeira com o corpo molhado ou porque pegou uma chuva saindo do trabalho ou do colégio. Felizmente, nosso sistema imune é suficientemente forte para lidar com situações triviais como estas.

                                                                                                                                           
A pneumonia é séria, mas muitos casos podem ser evitados. Especialista israelense destaca a importância da vacinação e outras medidas preventivas para reduzir o risco de infecções bacterianas nos pulmões

A pneumonia mata mais de 2,7 milhões de pessoas todos os anos no mundo. Em mais de metade dos casos, uma bactéria chamada pneumococo é responsável pela doença. Para saber mais sobre o assunto, fizemos uma entrevista exclusiva com o pediatra Ron Dagan, professor da Universidade Ben Gurion, de Israel. Considerado um dos mais importantes especialistas no tema, ele esteve no Brasil para uma série de palestras. Confira abaixo :
Qual a relevância da pneumonia pneumocócica no mundo de hoje?

De maneira geral, a pneumonia afeta pessoas de todas as idades, mas, especificamente em crianças e idosos, está entre as primeiras causas de morte. É importante que as pessoas saibam dela justamente por conta de sua frequência e mortalidade.

Ora, estamos falando de milhões mortes todos os anos! A pneumonia pneumocócica é um tipo da doença. O causador é o pneumococo, uma família de bactérias. Ele não está por trás de todos os casos, mas é o mais importante entre eles.

Falando sobre isso, qual o papel do pneumococo no cenário total das pneumonias?

Nós ainda não sabemos exatamente. Porém, se olharmos entre os micro-organismos que causam a maioria das pneumonias sérias e fatais, o pneumococo provavelmente será o número um da lista. 
Trata-se de uma família inteira de bactérias, com mais de 95 membros, que nós chamamos de sorotipos. A boa notícia é que temos vacinas disponíveis, que protegem contra alguns desses tais sorotipos.

Voltando à sua pergunta, o impacto do pneumococo vai depender muito do diagnóstico, do país, da idade e da condição do paciente. Há uma série de questões que precisam ser consideradas. Mas certamente o papel dele é decisivo.

Como o senhor comentou, a pneumonia pneumocócica costuma ser mais séria entre crianças e idosos. Além da idade, quais  fatores interferem na gravidade da doença?

Existem dois pontos nesse contexto: nosso próprio organismo e a condição que nos cerca. Muitas pneumonias ocorrem no inverno, quando temos vários vírus circulando pelo ambiente, como o influenza, causador da gripe, e o vírus sincicial respiratório, que provoca o resfriado.

Quem tem contato com eles e fica doente, corre um risco maior de sofrer uma infecção secundária pelas bactérias. Uma grande propulsora das pneumonias é o que chamamos de coinfecção, um trabalho conjunto entre os vírus e as bactérias. Repare, esse fator não está relacionado a quem você é, mas ao clima do lugar onde você vive.

*Outro ponto a ser considerado são os pacientes de risco. É o caso de quem fuma, hábito que danifica o trato respiratório, ou daqueles que são obesos e têm diabetes. Todas as doenças crônicas elevam o risco de pneumonia.

Por fim, temos a genética. O sujeito pode ter um problema imunológico de nascença que facilita a instalação das bactérias nos pulmões. Cada um desses fatores, combinados ou não, contribuem para o aparecimento da pneumonia.

Você comentou sobre o papel de vírus como o influenza no surgimento de uma pneumonia. Nesse sentido, tomar a vacina contra a gripe ajuda de alguma maneira a evitar uma complicação mais grave causada pelas bactérias?

Sem dúvida. Há preocupação com o vírus sincicial respiratório em crianças e o influenza em idosos. 

Está muito claro que, ao prevenir uma infecção viral por meio da vacinação, você também evita muitos casos posteriores de pneumonia.
A vacina contra a pneumonia é indicada  para crianças, idosos e alguns outros grupos e há versões que protegem contra 10, 13 ou 23 sorotipos. Existe uma perspectiva de aumentar o número de pneumococos incluídos nos imunizantes?

Até hoje, a ciência já descobriu quase 100 sorotipos de pneumococo. Alguns são mais comuns, outro menos. A primeira vacina que surgiu protegia contra 23 membros dessa família bacteriana. Ela existe por muitos anos e tem um papel importante na prevenção.

No começo dos anos 2000, foram lançadas as vacinas conjugadas, que são mais efetivas. Elas começaram protegendo contra 7 sorotipos e logo surgiram as atuais, que contém 10 ou 13.

Do ponto de vista da pesquisa e do desenvolvimento, é tecnicamente complicado incluir novos pneumococos nelas. Mas existe a perspectiva de que esse número suba para 15 em breve. Alguns laboratórios farmacêuticos estão tentando incluir mais 6 ou 8 sorotipos, mas os estudos estão em fases iniciais.

Além da vacinação, quais são as estratégias de prevenção contra a pneumonia pneumocócica?

Depende de quem estamos falando.
  •  Nas crianças, hoje em dia temos muito debate se a amamentação previne contra a pneumonia, pois evidências recentes comprovam que o aleitamento materno protege de outras infecções.
  • Em adultos, a primeira coisa é abandonar o cigarro. Sem contar que o fumo passivo também prejudica: filhos cujas mães fumam dentro de casa têm mais pneumonia.

Em alguns lugares do mundo, as pessoas possuem lareiras ou fornos a lenha dentro de casa e inalam muita fumaça. É preciso abandonar esse hábito. E, claro, não custa citar novamente, a indicação de vacina para crianças, idosos e pessoas de alto risco, como os portadores de doença crônica.

E por que os indivíduos com doenças crônicas estariam sob maior risco de desenvolver uma pneumonia?

Na verdade, existem várias situações que aumentam o risco de pneumonias. A necessidade de retirar cirurgicamente o baço, por exemplo. Ou uma infecção pelo HIV. Essas pessoas ficam mais suscetíveis.

É aí que entra a vacinação e, caso apareçam sintomas, um tratamento efetivo e um acompanhamento de perto. O risco de pneumonia é mais alto até os dois anos de vida.

*Por isso, vários países incluem o imunizante contra a pneumonia na infância em suas políticas públicas de saúde. Depois, conforme crescemos, a probabilidade de sofrer com uma infecção pulmonar diminui aos poucos. Ela volta a subir novamente ao envelhecermos, aos 60 e poucos anos. Essa é a razão de se indicar a vacina para essa faixa etária também.

Quais são os próximos passos na pesquisa e no desenvolvimento de novas soluções contra a pneumonia?

Em primeiro lugar, nós precisamos encará-la como uma luta em várias frentes. É cuidar da nutrição, ter um estilo de vida saudável, alterar comportamentos de risco como o tabagismo, construir casas de uma maneira diferente…

E volto a insistir: não podemos deixar de vacinar as crianças. Isso porque muitas vezes são elas quem transmitem as bactérias para outras pessoas, geralmente os familiares mais velhos. O objetivo da imunização não é zerar completamente o número de casos, mas diminuir os quadros mais sérios, que são potencialmente fatais.

Ao controlarmos os pneumococos agressivos, vamos ter aos poucos um perfil de doença menos severo. Quem sabe no futuro não tenhamos uma vacina que proteja contra 15 ou 20 sorotipos de pneumococo? Enquanto isso não vem, devemos fazer o melhor possível dentro daquilo que já temos.

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